quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Como perder uma vida em 3 horas de retrospectiva


Nos tempos de adolescente, tive um colega que se sentava de pernas esticadas e cigarro na mão. Via as raparigas irem e virem. Ria-se para elas e fumava o cigarro, um bocado mais cada dia. Ter os dedos amarelos não era sinal de ser um viciado, mas experiente e adulto (achava ele). Ser médico, advogado, jornalista ou professor não era semelhante a nenhum objectivo dele. Lembro-me disto e especialmente hoje, lembro-me bem, ele tinha a infeliz ilusão de que era totalmente livre para fazer o que lhe apetecesse e quisesse da vida. Ele devia de estar certo. Por outras palavras, o que ele achava devia ser a verdade. Mas não era, nem a ilusão lhe valeu de coisa alguma. Em três horas de retrospectiva a pensar na vida dele, naquela ilusão perturbadora de liberdade, suicidou-se hoje.

1 comentário:

Ana Rodrigues disse...

Talvez não fosse uma ilusão "de que era totalmente livre para fazer o que lhe apetecesse e quisesse da vida". Tanto era livre para fazer o que lhe apetecesse, que un dia lhe apeteceu acabar com a vida e acabou.
Acho que o suicídio é dos momentos mais racionais da vida de quem os comete.