quinta-feira, 26 de julho de 2012


Dos segredos do cérebro


E quase todas as tardes, ao fim do dia, quando fechava o meu gabinete e conduzia até ao ginásio, já sabia que perto de um dos sacos de boxe onde treino, aquele rapaz, que nem vinte e cinco anos deve ter para contar, se sentava a olhar em meditação para o saco de boxe.

Cansado de o ver naquela ilógica postura a fazer lembrar uma estátua realista, perguntaram-lhe como quem lhe cospe para cima:

Então, não atacas o saco? E responde ele a estalar os dedos: venho aqui quase só para me convencer de que faço boxe.

Depois desse dia, nunca mais lá voltou. A vergonha caiu-lhe em cima. Tinha sido descoberto um segredo do cérebro dele.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A tal equação mental


Amar-te faz parte de uma enorme equação mental que se criou no meu cérebro desde o primeiro dia em que te conheci. Vieste com o começo da primavera e trazias, pela lógica natural das coisas e dos momentos, a graça da própria primavera. Eras, portanto, o começo de uma nova estação na minha vida. 
Naquele dia, aquela equação tão complexa que se formou na minha mente ganhou contornos de dimensões estranhas, mas tu tinhas o dom de a transformar em matemática simples. Amar-te era tão simples e lógico (e até mesmo, porque não, matemático). Tinhas todos os componentes necessários para que a equação desse um resultado positivo e jamais se tornasse numa inequação. O nosso amor tornou-se tão certo como a matemática e difícil era, por isso, torná-lo ilógico. 
Tu eras, meu amor, a solução dos números todos. De todas as coisas confusas da minha vida. Eras a solução absurdamente lógica e perfeita de uma reviravolta que, quis o destino, se desse na minha vida. 
Contigo trouxeste a matemática simples de um dia perfeito ao teu lado. Contigo trouxeste primeiro o encanto que te caracteriza e que depressa me deixou embriagado de amor por ti. Depois, numa soma metódica dentro da tal equação, trouxeste a tua personalidade e todas as coisas que te caracterizam e que eu tanto amo. Quantos cálculos foram feitos? Já nem sei. Sei que a tornaste numa coisa complexa, impossível de desvendar completamente, mas fácil de amar. 
Aquela equação mental, aquela tal equação mental que criei, tornou-se tão certa e de impossível erro que cheguei à conclusão, naquele dia, que o resultado era mais do que certo e já nem eram precisos cálculos: fosse qual fosse o resultado, tu serias minha e eu seria teu. 

Sociedades modernas

É incrível como, vendo perfis online, sabemos mais de uma personalidade que um psicólogo ou psiquiatra há alguns anos atrás antes das grandes manipulações complexas da mente. Eu diria que se fez dos perfis online um depósito de personalidades. Muitas vezes tão inconstantes, confusas e exibicionistas que chega a ser incomodativo, por vergonha alheia, assistir a semelhante show off.