sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Pano de fundo.


O argumento de que o ordenado mínimo em Portugal é bastante inferior ao ordenado mínimo dos outros países da Europa anda de boca em boca. Mas porque os países têm diferentes níveis de vida, têm diferentes salários mínimos. Portugal não pode assim ser comparado com outros países (ao contrário do que se gosta de fazer) só podendo ser comparado à Grécia no que respeita ao nível de vida. Dessa comparação nasce a diferença de salários mínimos que, apesar de para algumas pessoas ser revoltante (então andaram a ganhar muito mais que nós a fazer o mesmo?) pode ser reconfortante (porque, apesar de tudo, não temos uma factura maior). E agora, Portugal também pode ser comparado no que respeita ao barco em que ambos os países se enfiaram a querer suar pouco e a receber muito.

Se formos olhar para os países todos da Europa, Portugal é bem capaz de ser o país que mais hipóteses tinha de lucrar com o Euro pela sua competitividade, porque, em termos práticos, países como Itália, Holanda, Suíça e outros que tais, gastam tanto em custos de produção de produtos que acabam por pôr esses mesmos produtos a preços claramente muito superiores aos preços que, por exemplo, Portugal poria.
Assim, uma Itália, Holanda ou Suíça, pega num produto com o qual gasta em produção 1000€ e vende-o por 3000€ (e não têm como contornar isto, porque há salários altos, os tais salários mínimos, há os custos de produção e mais um sem fim de coisas). Portugal, por outro lado, pega no produto, gasta 600€ (não pagou tanto ao trabalhador, claro está) e vende o produto por 2300€.

Não é difícil supor que, no mercado Europeu, a escolha recairia para o produto português (contando que fosse exactamente igual aos outros).

Ora Portugal chegou a um ponto em que não se preocupava muito em produzir e em ter essa margem de lucro e aumentar as vendas. As frotas de pesca quase se evaporaram, as produções nacionais primeiro que cheguem ao estrangeiro é preciso que o Papa dê a benção quase. Fomo-nos assim tornando num país que, sentado numa esplanada, lá faz um esforço para ir adiantando trabalho, enquanto aproveita o sol e manda vir umas bebidas frescas.

Agora as contas chegaram e o papel da conta é tão grande que se desenrola pela esplanada fora.

1 comentário:

Morcegos no Sótão disse...

Gostei da alegoria da esplanada. E muito verdadeiras, as suas (tuas?) palavras.

MJNuts